A Rainha Destronada

Contudo, a hipótese da Rainha Vermelha não ficou isenta de sua cota de pesadas críticas. Os primeiros ataques vieram de paleobiólogos que questionavam se as curvas de sobrevivência eram de fato log-lineares Raup75,Sepkoski75,Hallam76. [Foin et al.(1975)Foin, Valentine & Ayla] chamam atenção para a falta de dados empíricos (principalmente ao nível de espécie - que seria o ideal) e afirmam que o modo de construção das curvas de Van Valen é inerentemente tendencioso, sendo o resultado log-linear artificial e fruto do grau de agregação da escala utilizada. De acordo com esses autores, as curvas de Van Valen não permitem inferência alguma sobre a constância nas taxas de extinção; as evidências para a suposta nova Lei Evolutiva de Van Valen, se existirem, devem estar em algum outro lugar.

[Van Valen(1975)] responde acusando os autores de terem produzido ``uma curiosa mistura de má interpretação e confusão conceitual''. De acordo com Van Valen, ele sempre teria tido muito cuidado em evitar dizer que ``a probabilidade de um táxon se extinguir é independente de sua idade'', sendo isso verdade apenas para a probabilidade média (propensão) de um conjunto de taxa, complementando que ele já havia dado razões para acreditar que taxa individuais possuem diferentes probabilidades de se extinguir em diferentes idades Valen73. Sobre os dados com os quais construiu seus gráficos, Van Valen ainda responde que a afirmação de que não teria usado taxa inferiores (nível de espécie) ``é estranha'', pois ele fez uso de todos os dados disponíveis e adequados: 5 gráficos para espécies, 34 para gêneros e 17 para famílias Valen73. A evidência de constância mostrou-se similar para cada categoria, sendo a própria linearidade observada nos taxa supraespecíficos evidência para sua realidade ecológica Valen75.

Uma confusão recorrente, embora pouco compreensível quando se leva em conta a clareza e cautela da formulação de [Van Valen(1973)], é interpretar a Lei da Constância da Extinção como afirmando que a taxa de extinção por unidade geológica de tempo é constante para cada grupo particular de organismo Wei83. Posto dessa forma, a Lei estaria obviamente errada; é só levar em conta os eventos de extinção em massa Hoffman91,Foin75. Outra forma, igualmente errônea, de interpretar essa asserção sobre as probabilidades de extinções é imaginar que, em qualquer dado tempo geológico, a probabilidade de se extinguir é igual para qualquer táxon de um grupo. Isso também é claramente falso, pois se pode constatar empiricamente pelo registro fóssil que diferentes taxa relacionados podem ter diferentes probabilidades de entrarem em extinção Foin75. Mas é exatamente esse o paradoxo que a hipótese da Rainha Vermelha busca solucionar: o fato de taxa individuais variarem quanto a susceptibilidade de extinção, tanto ao longo do tempo quanto quando comparados uns com os outros (em caso de taxa contemporâneaos), e a média de susceptibilidade variar ao longo do tempo, enquanto que média é constante quando analisados períodos muito extensos Valen75.

Uma crítica igualmente comum foi, já considerando a Lei da Constância da Extinção como de fato verdadeira, questionar se ela realmente necessitaria de algum tipo de explicação especial. [Salthe(1975)] interpreta os resultados obtidos por Van Valen como significando meramente que não há fortes forças sistemáticas operando nos organismos em questão, então não há nada que requeira uma explicação causal. Outra linha de críticas centra-se nos aspectos mais biológicos e nos pressupostos intestáveis da teoria. Soma-zero chega a ser uma pressuposição plausível, mas talvez não seja amplamente válida e não há como testá-la, sendo essa a razão de [Stenseth and Maynard Smith(1984)Stenseth & Maynard Smith] terem-na descartado dos seus modelos. É possível que a condição particular em que a energia de um sistema seja fixa e completamente explorada e em que toda a melhora adaptativa de uma unidade ecológica corresponda a uma piora para as outras não seja universal ou mesmo predominante Hoffman91,Castrodeza79,Valen77,Smith76 [ver posições contrárias em [Van Valen(1976),Van Valen(1979)]]. [Castrodeza(1979)] acha questionável o caráter supostamente ubíquo da competição na natureza, necessário à hipótese da Rainha Vermelha, e salienta que mesmo relações de parasita-hospedeiro e presa-predador podem assumir aspectos mutualistas equilibrados após certo tempo de co-evolução.

Leonardo 2003-12-20