Explicando o sexo

Sexo é a forma mais comum de reprodução Martens00 e o modo como ele surgiu pode ser intrigante, porém não tanto quanto o como ele se manteve durante história evolutiva e como ele é perdido. [Margulis and Sagan(1988)Margulis & Sagan] propõem como possível origem do sexo um evento de canibalismo entre organismos unicelulares primitivos em períodos de estresse, que em algum momento foi incompleto, havendo fusão de cariótipos e trocas gênicas, que adaptativamente trouxeram a vantagem da variabilidade.

Inicialmente [Van Valen(1973)] não visava explicar tal questão, e sim o fenômeno da Lei da Constância da Extinção por ele observado no registro fóssil, uma explicação que permaneceu na esfera teórica por vários anos (a parte de interpretações errôneas) até ser testada por interações entre parasitas e hospedeiros (como explicado anteriormente), onde o enfoque logo deslocou-se para a questão do sexo.

A sexualidade já foi analisada sob outras teorias que incluem modelos ecológicos como o Modelo da Loteria Williams75 (seleção ``pesada'', na qual a seleção é independente de freqüência e densidade, aumentando a média geométrica do fitness), o Modelo de Banco Enovelado Bell82 (seleção ``leve'', dependente tanto de densidade quanto de freqüência, evidenciada em situações de grande competitividade em altas densidades) e modelos de acumulação de mutações, como a Catraca de Müller, que são funcionais, porém parecem não atuar com velocidade suficiente para manter a sexualidade.

Como, então, o sexo poderia ser mantido, se modelos confirmam que uma população de individuos sexuados é facilmente substituída por indivíduos assexuados Hamilton90,Lively96,West99?

[Jokela et al.(2003)Jokela, Lively, Dybdahl & Fox] analisaram algumas comunidades de Potamopyrgus antipodarum (Gastropoda) e estudaram a presença ou ausência de sexualidade. Os resultados indicaram que a seleção pesada falha em explicar a manutenção do sexo em sistemas naturais e a seleção leve é pouco significativa (pois populações sexuadas e assexuadas podem coexistir em um mesmo habitat), podendo ter pequena importância na distribuição geográfica das diversidades clonais. Por outro lado a teoria de seleção negativa freqüência-dependente por parasitismo (ou Rainha Vermelha), somada à Catraca de Müller e à deriva genética, parece suportar as observações quanto à manutenção do sexo, uma vez que grupos sexuados apresentam um menor índice de parasitismo.

A co-evolução por parasitas também mostra-se como uma melhor explicação para a manutenção do sexo, pois melhor explica tanto a presença de espécies com baixa fecundidade, sobreposição de gerações ou mesmo com freqüentes reversões para partenogênese, como [Hamilton et al.(1990)Hamilton, Axelrod & Tanese] demonstrou através de seus modelos. Nestes mesmos modelos verificamos também que existe não apenas relação entre o número de agentes infecciosos no organismo e a sexualidade, mas também influência do número de loci relacionados às defesas do hospedeiro. Sendo assim, temos um modelo que demonstra não apenas a manutenção do sexo, mas comprova, pela hipótese da Rainha Vermelha, a observação empírica de que os organismos apresentam uma gama de genes associados a defesas infecciosas.

O sexo é, em última análise, apenas uma contra-resposta adaptativa às pressões seletivas geradas por interações bióticas onde o parasitismo pode ser visto como uma mutação deletéria, sendo um ambiente rico em parasitas equivalente a um ambiente altamente mutagênico, uma vez que organismos sexuais facultativos preferem a sexualidade em estresse ambiental. Contudo, a analogia pode não ser verdadeira, pois espécies de ambientes altamente mutagênicos e pobres em parasitas não são, em geral, evidentemente mais sexuados Hamilton90. Talvez isso indique que dinâmicas da Rainha Vermelha não sejam essenciais para a criação do impulso evolutivo filético inicial, mas podem o ser em sua continuidade.

Leonardo 2003-12-20