Obstáculo "organiza" o pânico da multidão
LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
Folha de S.Paulo
Você está num cinema lotado quando surge
um incêndio. As pessoas começam a correr.
Numa das saídas, há uma coluna quase na
frente da porta. Você a evita, em busca de
outra mais desimpedida -decisão errada,
segundo estudo que simula o comportamento
de multidões.
Na verdade, a coluna pode facilitar a saída e
diminuir o número de feridos. Esse é um dos
resultados de trabalho publicado na revista
"Nature" de hoje. Numa das simulações, o
número de pessoas que consegue escapar da
sala nos primeiros 45 segundos aumentou de
44, sem coluna, para 72, com ela.
"A coluna impede que a pressão seja toda
acumulada na porta. As pessoas acabam
empurrando a coluna, diminuindo empurrões
entre si", diz Tamás Vicsek, da Universidade
Eötvös, Hungria.
O melhor resultado ocorre quando a coluna
está um pouco afastada da porta e não
exatamente em frente dela. "Nesse caso, o
número de pessoas que vêm de um lado é
diferente do que vêm do outro, reduzindo os
choques."
O teste foi feito com um grupo de 200
"pessoas" (pontos no computador) em uma
sala de 225 m2, com uma porta de 1 m de
largura.
Em outra simulação, calculou-se a velocidade
que cada um deveria ter (supondo a mesma
para todos) a fim de permitir a saída do grupo
da sala sem coluna, o mais rapidamente
possível. O menor tempo para que todos
saíssem foi alcançado quando cada um se
moveu a 1,5 m/s rumo à porta.
Se eles se movessem mais rapidamente, o
tempo de saída voltaria a crescer devido ao
atrito com os outros e com a parede.
Na terceira simulação, foram incluídos
aspectos psicológicos. Colocaram-se 90
indivíduos em uma sala em chamas com duas
portas de saída, escondidas pela fumaça, cada
uma com 1,5 m de largura.
Os resultados mostraram que, para diminuir o
número de mortos, a ação ideal seria uma
mistura de comportamento individualista
(buscar uma porta por si mesmo) e coletivo
(seguir os outros).
Modelagens anteriores, que concebiam as
pessoas como partículas sem vontade própria,
concluíam que os indivíduos saíam igualmente
pelas duas portas, como um fluido. Na
prática, a maioria sai por uma só porta.
"Estádios e cinemas poderiam ter portas
antipânico e corredores que se alargam à
medida que se dirigem à saída. O que não
podem ter são corredores largos no meio e
estreitos nas pontas", afirma Dirk Helbing,
professor da Universidade de Tecnologia de
Dresden, Alemanha, autor do estudo com
Vicsek e Illés Farkas.
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