Japoneses ligam memória a proteína
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Cientistas japoneses descobriram que a memorização aumenta a quantidade de uma proteína responsável pelo crescimento de ramificações de
neurônios. O estudo, que sai na edição de novembro da revista "Nature Neuroscience", apóia a tese de que as memórias são representadas no
cérebro por configurações específicas de grupos de neurônios.

A pesquisa mostrou, em macacos, que a produção da proteína BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro) era maior após a memorização de pares de figuras.

O BDNF causa mudanças nos dendritos e axônios (ramificações dos neurônios que permitem sua intercomunicação), alterando a intensidade
da "conversa" entre as células. Ligações diferentes representariam memórias diferentes, segundo o modelo.

"Foi o primeiro estudo a revelar os mecanismos moleculares da memória em primatas. É possível extrapolar os resultados para humanos, já que os sistemas visuais e de memória são muito parecidos", afirma Yasushi Miyashita, chefe do departamento de fisiologia da Universidade de Tóquio, um dos autores do estudo.

Como o cérebro é muito grande em termos moleculares, os pesquisadores decidiram verificar a presença do BDNF em áreas específicas. Eles
escolheram a chamada área 36, que fica no interior do lobo temporal (porção do cérebro na altura das têmporas). Ela foi eleita porque lesões nessa região causam dificuldades de memorização em macacos.

O grupo verificou que outras áreas próximas à 36 não apresentavam aumento de BDNF, o que confirmou a especificidade da área para processos de memória.

Cérebro partido
Os cientistas usaram macacos que tiveram seus cérebros divididos cirurgicamente. Ainda vivos, tinham os hemisférios direito e esquerdo do
cérebro funcionando independentemente.

A equipe queria fazer com que um lado memorizasse mais do que o outro, para depois comparar os níveis de BDNF no mesmo animal. Isso eliminaria a influência de diferenças genéticas e de níveis de atenção entre os macacos.

Para estimular o hemisfério direito do cérebro, a equipe mostrava ao macaco uma figura inicial (pista), seguida de duas outras. Somente uma delas formava o par com a pista. Quando o macaco apontava a segunda figura corretamente, ganhava comida.

Para o esquerdo, o exercício consistia em escolher entre duas figuras. Somente uma delas dava acesso à comida. Assim, as tarefas exigiam mais memória do hemisfério direito que do esquerdo. E foi justamente do lado direito que se viu a maior concentração de BDNF.

Para entender como uma tarefa é executada por um só lado do cérebro, pode-se imaginar alguém olhando um retângulo. A metade esquerda
da figura é vista pelo hemisfério direito e a direita, pelo hemisfério esquerdo.
(LUCIANO GRÜDTNER BURATTO)
 

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