Centro introduz metodo para observar cancer infantil
LUCIANO GRUDTNER BURATTO
Folha de S. Paulo

Um centro de tratamento de cancer infantil em Campinas acaba de introduzir
um novo metodo para saber se um tumor sob quimioterapia esta' diminuindo.

Ele se baseia no composto Sestamibi-Tc99m e esta' sendo utilizado no Centro
Infantil Boldrini. Trata-se de uma alternativa 'a biopsia (retirada de
tecido afetado para analise), um procedimento considerado invasivo.

Para contornar a dificuldade, o ideal e' ter uma maneira de monitorar a
evolucao da terapia com algum tipo de "microscopio". Algo como um composto
que emita uma "luz" sempre que o tumor estiver em acao -como o
Sestamibi-Tc99m.

Segundo Sidnei Epelman, coordenador do Departamento de Oncologia da
instituicao, o metodo por ele aplicado e' nao-invasivo e barato. "E' uma
tecnica factivel no dia-a-dia", afirma.

O monitoramento do tumor e' feito por meio de um radioisotopo (elemento
quimico que emite radiacao) chamado tecnecio 99m.

O Sestamibi e' uma molecula que, quando injetada, circula principalmente nos
tecidos com tumor. Quando o tecnecio radiativo e' ligado ao Sestamibi,
tem-se a "luzinha" sinalizadora do tumor.

O Sestamibi radiativo e' fabricado no Brasil exclusivamente pelo Ipen
(Instituto de Pesquisas Energeticas e Nucleares), em SP, e distribuido para
todo o pais.

"Importamos um kit com a molecula. O que fazemos aqui e' produzir o Tc99m e
adiciona-lo ao Sestamibi", afirma Jair Mengatti, chefe do setor de producao
de radiofarmacos do instituto.

O marcador estudado por Epelman tem uma vantagem em comparacao a seus
congeneres. Ele esta' relacionado com os mecanismos de resistencia do
tumor.

"Cerca de 70% dos tumores nao respondem 'a quimioterapia", afirma o medico
oncologista.

Caso o tumor resista ao tratamento, o marcador continuara' circulando no
tecido doente, sinalizando a ineficacia do procedimento.

Quanto mais cedo se souber que a terapia nao esta' fazendo efeito, melhor
para o paciente. "Esse marcador ajudara' aqueles 30% que resistem ao
tratamento."

Epelman estudou 23 criancas com osteossarcoma, tipo mais comum de cancer
infantil de osso. A evolucao do tratamento foi monitorada com o Sestamibi
radiativo.

Em 84% dos casos, os resultados observados com o marcador foram confirmados com biopsia. O trabalho sera' apresentado em outubro na Holanda. 
 

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