Descoberta de astros solitários põe em dúvida
 teorias sobre a gênese planetária
 LUCIANO GRUDTNER BURATTO 
 Folha de S. Paulo

Uma equipe internacional de astrofísicos detectou 18 corpos celestes similares a planetas, fora do Sistema Solar, que não giram ao redor de uma estrela.

A descoberta desafia teorias de formação planetária, que atribuem a origem dos astros à condensação de gás e poeira em torno de estrelas.

Se aceitos como planetas pela comunidade astronômica, os 18 astros serão somados aos mais de 50 já descobertos fora do Sistema Solar. Mas serão os primeiros a vagar "soltos" no espaço, fora da órbita de uma estrela.

Uma das hipóteses para sua existência é que tenham sido formados por fragmentos resultantes da condensação de nuvens de hidrogênio. Estariam livres como conseqüência do lançamento para fora de um sistema instável, com varias estrelas interagindo.

A detecção de planetas fora do Sistema Solar baseia-se em dados da estrela em torno da qual giram. Devido à forca gravitacional, a massa do planeta causa uma oscilação mensurável na posição da estrela. O grau de oscilação permite estimar a massa do planeta.

"Nesse caso, porem, inferimos a massa dos planetoides por sua idade e luminosidade. É a única maneira de determinar a massa de objetos isolados, e é a primeira vez que isso foi feito para astros fora do Sistema Solar", diz Eduardo Martin, do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, EUA, um dos autores do estudo.

Os cientistas tiveram de mostrar que os corpos eram planetas e não anãs marrons, pois suas massas estão próximas do limite que separa essas classes de astros.

Os corpos detectados têm massas estimadas entre 5 e 15 vezes a de Júpiter (Mj), o que os classifica entre planeta e anã marrom. Um planeta tem ate' 13 Mj, e uma anã marrom, entre 13 e 75 Mj.

Acima de 75 Mj, há energia suficiente para o inicio da fusão nuclear, a fornalha que alimenta as estrelas e as faz emitir uma luz mais intensa.

Os 18 corpos achados não são estrelas, portanto, mas poderiam ser anãs marrons. A solução para o conflito está na idade do agrupamento estelar e no brilho dos astros observados.

Um planeta não tem massa suficiente para realizar fusão nuclear no seu núcleo. Já uma anã marrom consegue fundir dois átomos de deutério (hidrogênio com um próton e um nêutron formando o núcleo) em um de hélio, gerando luz própria. Mas as anãs não conseguem sustentar a reação.

Os objetos poderiam, assim, ser tanto planetas gigantes quanto anãs marrons "apagadas". Pela idade do aglomerado estelar, entre 1 milhão e 5 milhões de anos, se os corpos fossem anãs marrons, deveriam brilhar muito, ainda. "Encontramos na região anãs marrons e comparamos sua luminosidade com a dos supostos planetas.

Eles brilhavam menos e eram mais frios que as anãs marrons da mesma região", diz Rafael Rebolo, do Instituto de Astrofísica das Canárias, na Espanha. "Talvez os critérios para definir um planeta, como girar em torno de uma estrela, tenham de ser mudados", diz Amaury de Almeida, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP.

Os cientistas apontaram seus telescópios para o agrupamento próximo à estrela Sigma, na constelação de Orion. Essa região foi escolhida por ser próxima, jovem e livre de nuvens de gás e poeira, que podem obstruir a viso.

Dois tipos de medições foram efetuados: fotometria e espectroscopia. O primeiro, realizado em observatório nas Ilhas
Canárias, identificou os astros e mediu sua luminosidade pelo numero de partículas de "luz" detectadas.

O segundo, feito nos telescópios Keck, do Havaí, mediu a temperatura de 3 dos 18 astros, que variou de 1.427C a 1.927C.
 

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