TORTURA PSICOLÓGICA
Solidariedade é a solução, diz psicanalista
FREE-LANCE PARA A FOLHA

 Um dos passos importantes na resolução de um problema é dar-lhe nome. Foi isso o que a psiquiatra e psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen fez ao lançar, em 1998, o livro "Harcèlement Moral" (Assédio Moral).

 A obra, traduzida em 24 países, suscitou debates na França e impulsionou a criação de organizações contra os abusos no trabalho. Seu segundo livro, "Malaise dans le Travail" (Mal-estar no Trabalho), deve ser lançado no Brasil no ano que vem.

 Leia trechos da entrevista concedida por e-mail à Folha.



 Folha - O que é o assédio moral?

 Marie-France Hirigoyen -É todo comportamento abusivo (gesto, palavra e atitude) que ameaça, por sua repetição, a integridade física ou psíquica de uma pessoa, degradando o ambiente de trabalho. São microagressões, pouco graves se tomadas isoladamente, mas que, por serem sistemáticas, tornam-se destrutivas.

 O problema começa normalmente com críticas constantes do agressor ao trabalho de um funcionário, que é impedido de trabalhar ou, ao
contrário, vê-se sobrecarregado de tarefas. Ao impedir a vítima de trabalhar adequadamente, o agressor pode mais facilmente criticá-la.

 Em seguida, ele rompe as alianças que ela poderia ter e a isola, não lhe dirige mais a palavra, não a convida mais para as reuniões e, por fim, se ela tenta se defender, humilha-a, critica sua vida privada e faz pouco caso de suas opiniões. A essa altura, a saúde dessa pessoa já está fortemente alterada.

 Folha - Esse problema já existe há muito tempo. Por que só agora está sendo divulgado?

 Hirigoyen -Se se fala sobre assédio moral hoje, é porque, até agora, não havia um outro termo para qualificar o problema. Trata-se de um fenômeno íntimo e que causa vergonha a suas vítimas. Os profissionais a quem se poderia recorrer (médicos, psicólogos, advogados) duvidavam dessas pessoas, que preferiam ficar caladas. O medo do desemprego também contribuía para o silêncio.

 Contudo, a busca por respeito e dignidade, mesmo que nem sempre respeitada, está se tornando cada vez mais importante hoje em dia. Foi preciso apenas que eu falasse sobre o assunto no meu primeiro livro para que muitas vítimas viessem a público e começassem a questionar a situação.

 Folha - Além do assédio hierárquico (chefe contra subordinado) existe o assédio entre pares (colegas no mesmo nível da hierarquia). Qual a incidência desses casos na França e por que eles ocorrem?

 Hirigoyen -Na França, 58% dos casos são hierárquicos. Mas, em 12%, o assédio é horizontal. Esse problema está mais associado à inveja e à
 rivalidade.

 Os métodos de gerência atuais colocam as pessoas em competição, esperando, assim, estimulá-las. Com isso, o que se obtém são comportamentos desleais.

 O que é importante frisar é que, independentemente da causa do assédio, uma vez iniciado, espalha-se rapidamente a todo o grupo, que dá as costas à vítima e fica do lado do mais forte.

 Folha - Como defender-se?

 Hirigoyen -O importante é falar sobre o assunto e não ficar sozinho. O assédio é uma doença da solidão. A vítima é isolada pelo grupo e não pode se defender. A única solução é a solidariedade e a ação coletiva. (LGB)
 

 Back to Assedio
Back to Home