TORTURA PSICOLÓGICA
Seleção de superiores não prioriza histórico
FREE-LANCE PARA A FOLHA

 A presença de chefes "tiranos" em empresas é decorrência, em parte, da abordagem usada em sua seleção. Focados em resultados, os "headhunters" (caçadores de talento) preocupam-se pouco com o histórico das relações do candidato com subordinados.

 "Normalmente, as pessoas são admitidas pela competência e demitidas pelo comportamento. Para mudar esse quadro, é preciso mudar o próprio processo seletivo", analisa Amaecing Mozart Langbeck, gerente de consultoria em gestão do capital humano da Deloitte Touche Tomatsu.

 Apesar da constatação, pouco se faz para selecionar chefes mais "humanos". "Os principais fatores para contratação são resultados e
referências", diz Simon Franco, diretor de desenvolvimento estratégico para a América Latina da consultoria Simon Franco/TMP Worldwide.

 "Ninguém está preocupado especificamente com o modo como eles tratam seus subordinados." Esse tratamento, porém, pode influir no resultado das companhias. Pesquisa da consultoria Hay Group, realizada nos EUA, mostrou que o estilo gerencial pode ter um peso de até 30% nos resultados financeiros da empresa.

Inconstância
 O reflexo imediato da má liderança é a paralisia do funcionário. "Quando ajo sem consultar meu chefe, sou 'insubordinado'. Quando não faço nada, sou 'incompetente'. Essa inconstância já me levou a crises", analisa Gustavo, 25, assessor de imprensa.

 "No trabalho, convivemos com pessoas com diferentes níveis de saúde mental", explica Tatiana Wernikoff, consultora do Instituto de Psicologia Organizacional. Os próprios chefes são assediados por seus superiores. Mas muitos deles usam os subordinados como válvula de escape, sem a qual não aguentariam a pressão.

 Um caso extremo é a história de "Pitbull", apelido dado a um encarregado de produção de uma empresa química de São Paulo. Acostumado a humilhar seus subalternos, foi denunciado por eles ao sindicato da categoria e advertido pela direção. Meses depois, o resultado: infarto fulminante.

 Wernikoff lembra que, para existir o autoritarismo, são necessários dois atores: quem manda e quem obedece. "Trata-se de uma relação de complementaridade."

 "Antes pensava-se que isso era natural: 'Uns mandam, outros obedecem'. Hoje as pessoas têm consciência de seus direitos. E a consciência é o primeiro passo para a mudança", resume. (LGB)

 

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