TORTURA PSICOLÓGICA
Doente e acidentado formam grupo de risco
FREE-LANCE PARA A FOLHA

 Funcionários que retornam ao trabalho após afastamento por acidente formam um grupo propenso ao assédio. Além de perder eficiência, esses
trabalhadores adquirem estabilidade, o que revolta colegas e desagrada empregadores. É o caso de quem sofre de LER (lesão por esforços
repetitivos).

 Em algumas categorias, como a dos bancários, a frequência desses casos é alta. A legislação trabalhista garante que todo empregado
afastado por mais de 15 dias por LER _considerada acidente de trabalho_ tem direito à estabilidade por um ano a partir do dia de seu retorno ao trabalho.

 Ao voltar, esse funcionário deve ser realocado em uma função que não ofereça risco para sua saúde. É durante esse processo que ele fica
mais exposto ao assédio.

 A ex-bancária Terezinha Souza, 46, após 20 anos de banco, ficou afastada por cinco para tratamento de LER. Quando voltou, os problemas começaram. "Aqui não há lugar para você", teria dito o gerente, como boas-vindas. Colegas não a cumprimentavam, e subgerentes não lhe davam serviço.

 "Quando me davam, eram atividades abaixo de minhas qualificações, como carregar caixas", diz Souza, que também é psicóloga.
Segundo ela, os colegas diziam que seu problema era "LERdeza". Chegava chorando ao banco. "Isso alterou inclusive a minha libido. Fiquei dois meses sem fazer sexo. E olha que sou apaixonada pelo meu marido", confessa. Sete meses depois, pediu demissão.

Ilusão monetária
 Para Valdemar Pinheiro, secretário de saúde do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, essas empresas teriam "uma
 política deliberada de redução de funcionários lesionados".

 "Quando detectam o início do problema, muitos bancos demitem o funcionário, para evitar o afastamento e a estabilidade."
Outra estratégia dos bancos, diz Pinheiro, é negociar a saída do profissional antes do fim da estabilidade, adiantando os salários.

 Muitos aceitam, mas, segundo pesquisa do sindicato realizada nos últimos três anos, 90% deles se arrependem. "Quando voltam, estão com a auto-estima baixa. Assim, ficam mais propensos a cair numa ilusão monetária."

 Segundo a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), a política geral das empresas é evitar demissões e acordos. "Procuramos recolocar o
funcionário. O investimento em treinamento é alto. Perdê-lo não é algo que interesse aos bancos", diz Magnus Apostólico, coordenador de
negociações trabalhistas da entidade.

 Ele reconhece, contudo, que é difícil encontrar uma função para esse funcionário. "Muitas vezes eles não aceitam o novo posto, que pode ser
inferior àquele que detinham antes do afastamento."

 O medo faz com que muitos escondam o problema. A bancária Luiza, 48, adquiriu LER ao longo de 17 anos em um banco que, recentemente,
instituiu um programa de demissão voluntária.

 O objetivo, diz ela, é renovar os quadros. "Estou sob tratamento médico e psiquiátrico. Onde vou arrumar emprego com minha idade e com essa doença?" (LGB)
 

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