Quando dançar é um bom negócio 
Ressurgimento da dança a dois, como o forró e o 'zouk', amplia a demanda por cursos 
LUCIANO GRÜDTNER BURATTO 
FREE-LANCE PARA A FOLHA 

 Primeiro foi a lambada, no começo dos anos 90. Dez anos depois, veio o forró universitário. Os dois ritmos foram responsáveis pelo ressurgimento da dança a dois no país, esquecida nos anos 70 e 80 com a onda da discoteca. Aquela geração, agora adulta, tenta recuperar o tempo perdido, reforçando a demanda por cursos. O crescimento é visível: só em São Paulo existem hoje mais de duas dezenas delas, contra
três ou quatro na década anterior.

Um exemplo é a academia Dançart, de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), cujo número de alunos cresceu dez vezes desde a sua inauguração, em 1999. Segundo Emílio Yoshimune Ohnuma, 28, dono do negócio, é possível abrir uma academia com R$ 40 mil, incluindo aluguel do espaço, reforma (instalação de espelhos e som), contratação de
professores e capital de giro.

Nesse ramo, uma academia nasce da outra. Ohnuma, por exemplo, começou, em 1995, como aluno de Celso Vieira, dono de uma escola com 680 alunos em São Paulo. Em 1997, tornou-se professor e, dois anos depois, montou seu espaço. "Tinha só 28 alunos."

Outra característica do setor é a importância da propaganda boca-a-boca. Os alunos que se sentem aprendendo estimulam os amigos a entrar na dança.

Concorrência 
Segundo Roberto Mendoza, 33, dono do Strapolos Bar Academia, tradicional casa de dança de São Paulo, o pior concorrente é o "picareta", que diminui o mercado. "As pessoas não aprendem
e, no boca-a-boca, diminuem o interesse de potenciais alunos."

Mendoza foi um dos primeiros da nova geração a investir no setor. Em 1990, com 23 anos, largou o curso de engenharia naval da USP (Universidade de São Paulo) e começou a dar aulas de dança na própria universidade. "O Strapolos surgiu no lugar menos provável para uma academia de dança."

Como na época os bailes de dança de salão estavam recomeçando, não havia profissionais suficientes para atender a demanda. "Aprendi alguns ritmos, como o 'zouk' [derivação da lambada], praticamente sozinho, indo a bailes, assistindo a vídeos", conta Mendoza. Hoje, sua academia conta com 600 alunos.

Da mesma forma, Andrei Udiloff, 28, deixou a engenharia mecânica da USP para montar com o irmão, Vladimir, uma academia. "Na formatura do colegial, para não passar vergonha, não dancei a valsa com a minha mãe. Depois disso, ela insistiu para que eu aprendesse", justifica. Sua escola tem 600 alunos e dez professores.

Outro ritmo em alta é o tango. "Queremos desmitificar a dança. Os passos que vemos nos shows não são os mesmos usados no salão", diz Margareth Kardosh, 32, que, junto com Vitor Costa, 40, dirige uma escola em São Paulo.
 

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